Pontos-chave
- A Europa adiou o pacto UE-Mercosul para Janeiro de 2026, depois de a Itália se ter juntado à França na exigência de protecções mais fortes aos agricultores.
- Lula advertiu em particular que se o acordo não for finalizado “agora”, o Brasil não continuará a persegui-lo durante a sua presidência, mesmo tendo deixado publicamente espaço para um resultado em Janeiro.
- O Mercosul está a tentar acelerar pelo menos 11 outras vias comerciais, lideradas por um acordo quase concluído com os EAU, mas a capacidade negociadora é um estrangulamento.
O Mercosul chegou esperando uma foto assinada para coroar quase 25 anos de negociações. Em vez disso, o lado europeu pediu mais tempo.
a Itália alinhou-se com a França e um grupo de governos cépticos tornou um adiamento politicamente mais seguro do que uma decisão.
Bruxelas empurrou o próximo passo para Janeiro de 2026, argumentando que adicionou verificações e salvaguardas para proteger os agricultores e consumidores, e que o acordo ainda é importante estrategicamente.
Em Brasília, a frustração tem menos a ver com uma data do que com um padrão: quando a linha de chegada aparece, a pressão interna na Europa a move.
Em 2019, o ponto de discórdia foi enquadrado em torno das preocupações ambientais. Desta vez, o argumento é a proteção agrícola.


O pivô do Mercosul depois que a Europa faz uma pausa em um acordo comercial único em uma geração
Os diplomatas brasileiros insistem que o texto já inclui compromissos dolorosos, incluindo quotas para produtos agrícolas sensíveis e um mecanismo de salvaguardas que permitiria à Europa reagir caso as importações aumentassem.
Nos bastidores, a impaciência de Lula tem sido mais acentuada que seu tom público. Ele teria dito aos ministros que se o acordo não fosse finalizado agora, o Brasil não continue perseguindo isso durante seu mandato.
No entanto, na cimeira, ele também argumentou incisivamente que 20 de Dezembro não era a data escolhida pelo Mercosul, e ainda falou sobre a possibilidade de encerramento em Janeiro, sob a próxima presidência do bloco do Paraguai.
A mensagem parece uma alavancagem: o Brasil quer que a Europa assuma o custo político do atraso.
A resposta do Mercosul é um pivô para o “Plano B”. As autoridades estão pressionando para acelerar outras negociações, com o acordo dos Emirados Árabes Unidos descrito como o mais próximo da conclusão e coordenado pelo Paraguai.
O comércio de bens Brasil-EAU atingiu cerca de 5,4 mil milhões de dólares em 2024, com o Brasil a registar um excedente considerável. O Canadá também está de volta ao calendário, com negociações previstas para Brasília em fevereiro de 2026.
Outros caminhos vão desde possíveis lançamentos com o Reino Unido e a Malásia até um envolvimento mais profundo com o Japão, o Vietname e a Indonésia.
A Coreia do Sul deverá ser atualizada no início de 2026. A China continua a ser o dossiê politicamente mais sensível, uma vez que o Uruguai procura mais flexibilidade, enquanto o Brasil e o Paraguai defendem a negociação apenas do bloco, complicada pelos laços do Paraguai com Taiwan.
O prémio para a Europa ainda é incomparável: cerca de 720 milhões de pessoas e cerca de 22 biliões de dólares em PIB. Mas o atraso é um lembrete de que, no actual clima comercial, os reflexos proteccionistas podem superar a lógica estratégica.