“Depois de 10 dias observando o povo gaúcho enfrentando a ira da natureza, confesso que perdi a paciência com os mentirosos”, diz o novo ministro especial da reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimentum.
Por Paulo Pimenta
Na noite que marcou dez dias desde o maior desastre meteorológico da história do meu estado natal, fiquei acordado respondendo a inúmeras mensagens de preocupação. Dezenas de pessoas me enviaram um vídeo em seus celulares no qual eu supostamente era linchado à noite, durante uma visita a um abrigo. Amigos, colegas e familiares perguntavam se eu estava bem, se precisava de ajuda. O vídeo é mais um episódio de uma estratégia organizada de desinformação que acontece no Rio Grande do Sul.
A filmagem é de uma assembleia sindical no Ceará, onde alguém que não sou eu é alvo de violência. No entanto, as mensagens não apenas davam a entender que o vídeo era atual e me envolvia, mas também afirmavam que eu estava recebendo as “boas-vindas que merecia”. Mentir não é novidade; as mentiras não começaram com o WhatsApp, mas é nas redes sociais que emerge o fenômeno da produção de mentiras em escala industrial, com ações e métodos coordenados para desinformar.
O pesquisador brasileiro David Nemer, que leciona na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, afirma que não via uma campanha de desinformação tão massiva desde as eleições de 2018. O que o pesquisador detecta, eu experimento todos os dias: horas do meu dia são gastas desmascarando alguma nova história inventada para deslegitimar as ações dos cerca de 20 mil servidores públicos, civis e militares, que já resgataram mais de 60 mil pessoas e 6 mil animais.
É difícil compreender que, num momento de tal fragilidade, as pessoas se escondam atrás dos seus ecrãs, produzindo conteúdos que sabem serem falsos, com algum tipo de ganho político ou económico. É por isso que estou indignado. É por isso que, durante a reunião da Sala de Situação, eu disse que deveriam prender aqueles que produzem deliberadamente essas mentiras estratégicas para desinformar as pessoas. Por isso me apresentei à Procuradoria-Geral da República e à Polícia Federal para investigar essas pessoas como criminosas.
Não houve e não haverá censura por parte do secretário de Comunicação ou do governo do presidente Lula. A liberdade de expressão é um pilar da democracia que nos esforçamos por manter e continuaremos a fazê-lo. É inaceitável que as mentiras industriais, que dificultam o trabalho de resgate, restauração e reconstrução no Rio Grande do Sul, fiquem impunes. O que buscamos é justiça.