O veterano colunista Reinaldo Azevedo critica a ignorância de Glenn Greenwald sobre a legislação brasileira após se juntar à campanha de Elon Musk para minar o Supremo Tribunal Federal. Azevedo que foi ex-crítico de Lula e do PT até perceber quão fraudulenta foi a investigação da Lava Jatoconfronta agora Greenwald, que também tem sido um crítico regular de Lula e do PT desde que chegou ao Rio como turista, há vinte anos. O favorito de Tucker Carlson respondeu com raiva à crescente onda de desdém por parte dos progressistas brasileiros, que antes o viam como um aliado.
“Quando se trata de defender a democracia, os EUA têm muito a aprender com o Brasil contemporâneo, e não o contrário”
Por Reinaldo Azevedo
Glenn Greenwald escreve artigo na Folha em que denuncia ilegalidades em decisões do Supremo Tribunal Federal.
Não há argumentos jurídicos. Só o esterco que escorre do monturo bolsonarista.
Por que ele faz isso? Não vou especular sobre isso agora. Estou aderindo a outra pergunta. Glenn acusa a esquerda de ser subserviente ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, ignorando diferenças do passado. Bom… Tudo tem que ser visto no seu tempo. Se o Ministro, dentro das regras do jogo, confronta fascistas e golpistas, não há nada de estranho nesse apoio.
Se Glenn vê isso como uma inconsistência, ele próprio é personagem de uma contradição que lhe parece repreensível.
Quando o bolsonarismo tentou expulsá-lo do Brasil — numa mistura de autoritarismo, ilegalidade, xenofobia e homofobia — Glenn recebeu apoio unânime da esquerda, que agora ataca.
Parece um laço de contradições, mas não é. Vou explicar:
1: A esquerda foi, sim, hostil a Alexandre de Moraes e hoje apoia muitas de suas decisões porque enfrenta neofascistas.
2: Glenn, anteriormente apoiado pela esquerda contra as ameaças neofascistas, está agora no campo oposto e alinha as suas posições com aqueles que queriam expulsá-lo ou prendê-lo. Como se pode verificar, em ambos os casos há, de facto, coerência entre os progressistas.
Glenn é quem precisa explicar sua nova e má companhia, não a esquerda.
Aliás: Glenn revela, digamos, uma alma um tanto colonialista em relação ao Brasil: ele toma as leis de seu país de origem como universais.
E no caso dele, é uma sorte que não sejam. Nos EUA, um episódio como o incidente de hacking poderia levá-lo à prisão por “desrespeito ao tribunal”. No Brasil, a tentativa de golpe de Estado pode levar a processos judiciais e pena de prisão – para jornalistas ou não. Mas um jornalista nunca será ameaçado por não revelar a sua fonte. Sergio Moro, hoje aliado de Glenn, tentou. Mas a esquerda, hoje inimiga do turbulento e belicoso jornalista americano, denunciou a ameaça ilegal.
Glenn precisa parar com esse hábito pensando que está aqui para “civilizar” os nativos. Quando se trata de defender a democracia, os EUA têm muito a aprender com o Brasil contemporâneo, e não o contrário.
Desde que saiu do Intercept, Glenn vem tentando encontrar um nicho no mercado de ideias daqui. Até agora ele não conseguiu nada além de ser linha auxiliar do bolsonarismo, que queria expulsá-lo do Brasil e ainda o acusou de fazer parte, junto com o então marido, de um complô para obter uma cadeira na Câmara.
A esquerda é coerente quando apoia hoje um Alexandre de Moraes que nunca foi de esquerda. É incompreensível que Glenn tenha se encontrado no seio daqueles que essencialmente o odeiam.
Mas então, na hipótese benevolente, é com Freud, não comigo. E quanto à hipótese “não benevolente”? Este é material para jornalismo investigativo.
