A semana não foi nada monótona no Real Madrid.
A equipa de Carlo Ancelotti perdeu final mal-humorada da Copa del Rey 3-2 após a prorrogação para o Barcelona no sábado. Um dia depois, O Atlético relatou que o italiano estava prestes a deixar Madri para assumir o papel de técnico do Brasil.
O jogador de 65 anos está em negociações com a Federação Brasileira de Futebol (CBF) desde março. Ancelotti, descrito por vozes na CBF como “o sonho do presidente” Ednaldo Rodrigues, tem sido o principal candidato para substituir o demitido Dorival Junior no uma lista na qual Jorge Jesus, do Al Hilal, sempre teve destaque.
Nas últimas semanas, a CBF enviou dois emissários para conversar com Ancelotti. Eles progrediram a ponto de Ancelotti concordar em liderar o Brasil em suas partidas em junho e inicialmente até depois da Copa do Mundo de 2026, segundo múltiplas fontes com conhecimento da situação – que, como todos os mencionados neste artigo, pediram para permanecer anônimos para proteger as relações. Ancelotti até partilhou a notícia da mudança com diversas pessoas no campo de treinos de Valdebebas, em Madrid.
Tudo o que faltava era a sua assinatura… mas agora parece que a mudança para o recorde de pentacampeões mundiais estagnou. É uma situação que evolui rapidamente, mas aqui explicamos porquê.
O que mudou e por quê?
No início deste mês, em reunião em Madri um dia após a eliminação do Real nas quartas de final da Liga dos Campeões contra o Arsenal, a CBF e Ancelotti concordaram que o italiano assinaria seu contrato após a final da Copa del Rey. O clube espanhol e o treinador também se reuniram naquela semana para acertar os detalhes de sua saída.
A condição que a CBF sempre destacou aos seus candidatos a treinador é que eles estejam disponíveis para as próximas duas eliminatórias da Copa do Mundo, com a Seleção visitando o Equador e recebendo o Paraguai nos dias 4 e 9 de junho, respectivamente.
O Jesus do Al Hilal ficou satisfeito com este prazo e houve um acordo com ele, mas tudo dependia do que acontecesse com Ancelotti. Ancelotti deu indícios positivos à CBF, que inclusive começou a planejar como anunciaria sua nomeação e como divulgaria seu primeiro elenco.
Jesus também participou da shortlist da CBF (Fran Santiago/Getty Images)
Os nomes da equipe de Ancelotti também foram discutidos. Davide Ancelotti, seu filho e assistente no Real Madrid, quer iniciar a carreira como treinador principal a partir deste verão, mas deveria se juntar ao pai no Brasil se não tivesse um emprego para onde mudar até junho.
Ancelotti se reuniu com representantes da CBF em Londres nesta segunda-feira. Mas, para surpresa deles, ele não assinou e disse que o faria quando voltasse à Espanha. Mas depois de algumas horas, Ancelotti subitamente expressou dúvidas à CBF, colocando o acordo final em sério risco.
Conversas e reuniões para redirecionar a situação ocorreram na terça-feira, com algumas fontes otimistas e outras aconselhando cautela. No Brasil, algumas vozes temem que a imagem do presidente da federação Rodrigues possa ser manchada por não conseguir a assinatura de Ancelotti, como aconteceu anteriormente em 2023.
O acordo ainda acontecerá?
Depende de para quem você pergunta. Fontes da CBF e próximas a ela aconselham cautela, pois ninguém do lado brasileiro quer passar por mais um fracasso para atingir seu alvo principal.
Fontes em Madrid dizem que estão a ser feitos trabalhos para garantir que tudo avance. Isto depende em grande parte de um acordo entre o Real Madrid e Ancelotti sobre o salário para o ano restante do seu contrato no Bernabéu.
A sua última renovação do contrato com o Madrid ocorreu em dezembro de 2023 e o seu contrato existente expira no verão de 2026. Se o Madrid rescindir um ano antes do planeado, deverá pagar-lhe uma taxa de compensação, que foi previamente acordada.
Isso aconteceu na primeira passagem do italiano pelo clube, entre 2013 e 2015, quando Ancelotti recebeu uma indenização quando foi demitido quando seu contrato terminou em 2016.
Ancelotti já havia dito que “nunca decidiria” a data de sua saída e fez saber que não pretende deixar o clube por vontade própria. Mas a situação é diferente de 2015, dado o interesse do Brasil e não está claro se Madrid lhe pagaria uma compensação pelo último ano do seu contrato.
Vinicius Junior é um dos vários jogadores brasileiros que Ancelotti treinou (Diego Souto/Getty Images)
Se Ancelotti chegar a um acordo com o clube, uma solução poderia ser o Real Madrid não lhe pagar uma indemnização pelo resto do ano ou pagar-lhe um valor inferior. Mas o italiano já expressou sua raiva pelo fato de os treinadores não serem pagos adequadamente em uma reunião de dirigentes da primeira e segunda divisões espanholas em 2023.
A esperança é que seja alcançado um acordo que permita a Ancelotti aproveitar uma excelente oportunidade de treinar o Brasil na Copa do Mundo e garantir que ele não fique significativamente fora do bolso.
Embora o Brasil acredite que poderia igualar os salários de Ancelotti, o salário dos treinadores de seleções nacionais – mesmo no mais alto nível – tende a ser significativamente inferior ao dos maiores clubes. Assim, Ancelotti, se permanecesse no Real Madrid, ou se fosse demitido e pago no último ano de contrato, poderia receber mais do que se ingressasse imediatamente no Brasil, sem qualquer liquidação para o último ano.
Uma situação semelhante ocorreu quando Mauricio Pochettino ingressou na USMNT no verão passado, quando ainda lhe restava um ano de contrato com o Chelsea, com todas as partes eventualmente trabalhando juntas para encontrar uma maneira de minimizar a deficiência infligida ao treinador, o que pode ser a solução também no caso de Ancelotti.
Quais são as opções de Ancelotti caso não se junte ao Brasil?
Ancelotti tem outras opções além da seleção brasileira. Ele tem recebido interesse de clubes da Arábia Saudita, estando o Al Hilal entre os interessados em contratá-lo.
Em 2023, Ancelotti foi questionado numa conferência de imprensa se se mudaria para a Arábia Saudita caso recebesse uma oferta lucrativa e respondeu, em tom de brincadeira: “Iria a pé, sem reservas. Não preciso de reservar voo, iria a pé”.
Mas se nenhum desses destinos lhe agradar, ele ainda poderia permanecer em Madrid como não-treinador — uma opção que estava incluída em seu contrato anterior, conforme relatado por O Atlético.
O que isso significa para o Real Madrid?
Salvo uma grande surpresa, não muito.
O Atlético informou que Xabi Alonso, ex-meio-campista do clube que treina o Bayer Leverkusen, é o jogador do clube escolha preferida para substituir Ancelotti. No início deste mês, o CEO do Leverkusen, Fernando Carro, disse que o clube alemão tinha um “acordo de cavalheiros” com Alonso “se um time em que ele jogou” veio até ele e disse que o clube espera uma decisão “nas próximas três ou quatro semanas”.
Caso Alonso não ingresse antes do início da nova Copa do Mundo de Clubes da FIFA, em junho, o clube optará por uma opção interina. Santiago Solari, ex-técnico interino e agora diretor de futebol, e Raul, lendário ex-atacante e técnico do time ‘B’, são dois nomes citados.
Embora Solari seja uma figura de confiança da diretoria, Raul já tem uma equipe trabalhando sob sua orientação e esteve presente em alguns treinamentos da equipe principal. Apesar do drama recente, todas as fontes consultadas disseram não esperar que Ancelotti treine a seleção para a Copa do Mundo de Clubes nos Estados Unidos.
Reportagem adicional: Guillermo Rai
(Foto superior de Guillermo Martinez)