Campanha por centro cultural celebra legado de Carlos Marighella e Clara Charf em SP: ‘Marighella não é do passado, é do presente’ – Brasil de Fato

Campanha por centro cultural celebra legado de Carlos Marighella e Clara Charf em SP: ‘Marighella não é do passado, é do presente’ – Brasil de Fato


Um dia após a data que marcaria os 114 anos de nascimento de Carlos MarighelaSão Paulo (SP) sediou uma homenagem ao líder político e à sua companheira, Clara Charfque faleceu em novembro aos 100 anos.

Neste sábado, o Espaço Cultural Elza Soares, no bairro dos Campos Elíseos, reuniu uma programação extensa para celebrar o legado do casal e arrecadar recursos para a criação da Casa Carlos Marighella. Este futuro centro cultural dedicado à memória, pesquisa e educação, será instalado na antiga residência do militante em Salvador (BA), no bairro de Nazaré (região da Baixa dos Sapateiros).

O legado de Clara Charf e a luta feminista

Convidados trouxeram leituras distintas sobre o legado dos militantes e destacaram defesa da memória – Beatriz Ramos/Brasil de Fato

Durante a mesa “Clara Charf e a história das mulheres revolucionárias“, a jornalista e escritora Amelinha Telles, ex-presa política da ditadura militar, destacou o pioneirismo de Charf. “Ela era feminista, a Clara acompanhou a criação dos trabalhos da Vala de Perus e mais tarde na Associação de Mulheres pela Paz, ela reuniu diversas mulheres, indígenas, ciganas”, recordou.

Para Telles, a preservação da memória daqueles que lutaram contra o fascismo é fundamental. “Esse evento de hoje é muito importante, o Brasil continua muito ameaçado. Viva Clara, viva Marighela e vamos à luta”, disse.

Jean Tible, professor de Ciência Política da Universidade São Paulo (USP), ressaltou a importância de Clara como ponte para o popular Marighella. “A Clara é uma figura chave para o Marighella ser muito conhecida no Brasil e no Brasil popular, jovem e preto. E isso é muito importante porque o Marighella também é muito divertido, além da relação dele com o comunismo baiano e com o candomblé, formas muito diferentes de se lutar por justiça. A Clara faz a gente perceber a importância de uma infraestrutura para se ter essa memória, como esse local aqui. Quem se sustenta são as militantes mulheres muitas vezes.”

Ele concluiu: “São pessoas que viveram bastante e nunca se renderam, são pessoas que se deram inteiras por uma causa, um projeto coletivo de felicidade. Por isso é muito importante honrar a Clara e seguir com esse projeto, essas pessoas partem, mas deixam o projeto”.

Luta por memória e justiça

A vereadora Luna Zarattini (PT-SP) destacou os trabalhos na Vala de Perus, na Secretaria de Direitos Humanos da Câmara Municipal, que se iniciaram em 1990 durante, o mandato de Luiza Erundina quando prefeita da capital paulista.

As investigações das ossadas foram realizadas após denúncia do jornalista Caco Barcellos que culminou com a criação de uma CPI e exumação de ossadas de vítimas da Ditadura, com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) da Prefeitura de São Paulo participou mais fortemente em protocolos de cooperação para análise das ossadas a partir de 2010 e 2024, com apoio do Ministério dos Direitos Humanos. “Nós estamos na luta para que aquele local tenha um memorial vivo de memória, de luta, de pesquisa para que as próximas gerações saibam que ditadura nunca mais.”

Segundo Zarattini, Clara e Marighella continuam a inspirar o futuro. “Clara e Marighella convocaram a juventude [a lutar] porque eles têm esse horizonte de transformação, o questionamento e a indignação diante do mundo”.

A vereadora também celebrou o momento de virada no país. “Esse ano a gente teve um dos maiores marcos da luta por memória, por verdade e principalmente por justiça, tivemos esse ano a responsabilização daqueles que atacam a democracia, que tentam golpes, que atacam a democracia, os direitos, a população e o povo brasileiro, é um marco também para as famílias daqueles e daqueles que sofreram presos, mortos e torturados políticos. Então eu acredito que a gente está num momento de virada no Brasil, de olhar pra nossa história e dizer que a gente não vai deixar a história, dos vencedores, mas a história dos resistentes, a história da verdade, da luta e da transformação Viva Clara Charf e Carlos Marighella”, afirmou.

Na visão de Zarattini, Charf influenciou diretamente na ampliação da presença das mulheres na política. “Na liderança das mulheres, Clara fala da construção também do Partido dos Trabalhadores. É uma honra ter esses símbolos brasileiros, lutadores. Clara nos traz esse horizonte tão importante de luta.”

Isa Grinspum dividiu com o público memórias sobre sua formação familiar ao lado de Charf e Marighella – Beatriz Ramos/Brasil de Fato | Crédito: Beatriz Ramos

Isa Grinspum Ferraz, documentarista e sobrinha do casal, lembrou de três ensinamentos de Clara Charf: “a alegria, desde pequenininha eu vejo a minha tia, mesmo por tudo que passou na clandestinidade, ela sempre estava com o mesmo sorriso, brincando com a gente, contando histórias e ouvindo música erudita brasileira no final de semana. Voltou do exílio e voltou com esse mesmo sorriso. A segunda característica de Clara era a coerência, ela tinha um interesse genuíno em gente, ela gostava de A terceira marca é a lealdade com as pessoas e com as ideias, mas sem ser sectária.

A casa Marighella em Salvador: um lugar de estudo e conhecimento

A ideia do Instituto Carlos Marighella e Clara Charf surgiu para resgatar a casa de infância de Marighella em Salvador, que corria o risco de demolição por interesses imobiliários e fazer esse local, um espaço de memória e estudos. “Manter essa casa era prioridade, que está caída e abandonada há muitos anos, se criou esse instituto para honrar não só a deles memória, mas transformar o que eles deixaram em material de pesquisa e enriquecer como um lugar de conhecimentos novos. Não é um lugar de política, é um lugar de estudo e que possa estar aberto a cada população ultra carente daquele espaço de Salvador que possa ter atividade”, explicou Isa Grinspum Ferraz.

Sem painel “O direito à memória na resistência à ditadura“, o jornalista Breno Altman definiu Carlos Marighella como um dos grandes símbolos de resistência pelo seu heroísmo e valentia. “Quando a gente grava a imagem de Marighella, nós estamos gravando a luta de milhares de pessoas que fizeram sua vida e sua liberdade contra a Ditadura Militar, inspirando as novas gerações. Devemos nos inspirar na sua atitude perante a humanidade, na sua entrega, na sua valentia”, disse.

A jornalista e ativista de direitos humanos, Tatiana Merlino destacou a importância da iniciativa no contexto da impunidade histórica do Brasil. “Quarenta anos após a ditadura, o Brasil não julgou ninguém por assassinatos, tortura e desaparecidos pela ditadura, lembra Merlino. […] Parte do extermínio é o esquecimento, da luta, da história dos nossos revolucionários. A Casa Marighella, irá compor um espaço de memória, Marighella não é do passado, Marighella é do presente.”

Vladimir Safatle, professor de Filosofia da USP, enfatizou a radicalidade da crítica de Marighella ao “reboquismo” (a ideia de submissão das lutas sociais aos setores burgueses mais progressistas). “Num momento de muita retração como o nosso, lembre-se disso, dessa radicalidade, acho que é um elemento muito importante para a reconfiguração das nossas forças.”

“Marighella é minha amiga”, disse o deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ). “Eu sinto ele hoje presente, Marighella para mim é presença permanente como reflexão política que se faz de maneira amorosa, apesar de nunca ter apertado a mão de Marighella e de nunca ter abraçado Marighella.”

Atividades culturais e continuidade da campanha

O evento contorno com ainda apresentação musical do BRIME! e atividades diversas, incluindo aulas abertas de boxe, debates temáticos, feiras de livros e feijoada.

O projeto da Casa Carlos Marighella segue em campanha de financiamento coletivo. Os interessados ​​podem acessar o site oficial, escolher uma contrapartida e realizar a doação. Uma das opções permite que o nome do apoiador seja eternizado em uma das paredes do futuro centro cultural. As atualizações sobre a iniciativa são publicadas no perfil da organização no Instagram.




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