A Organização Não Governamental (ONG) Coletivo Morro da Cruzno bairro São José, em Porto Alegre, está vivendo um final de ano extraordinário. Atuando há mais de 15 anos — e oficialmente desde 2019 —, um grupo de colaboradores e adolescentes participantes do projeto do Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC), iniciativa voltada à inclusão digital, social e ambiental, que dá nova vida a equipamentos de informática que seriam descartados, realizou um dia especial em meio à natureza no Parque Estadual de Itapuã, em Viamão (RS).
O dia 17 foi pensado como um momento de pausa, troca e descanso, valorizando o caminho percorrido ao longo do ano e encerrando a temporada pelos bons resultados alcançados. Logo na chegada ao parque, o grupo foi recebido com atenção e carinho pela equipe do local, que apresentou o espaço e acolheu os alunos para o início das atividades.
A visita começou no minimuseu, onde os alunos participaram de uma conversa sobre a história do parque, sua importância ambiental e cultural e o papel fundamental que exerce na preservação da biodiversidade no Rio Grande do Sul. Em seguida, realizaram uma caminhada pelo parque, observando a paisagem, os bosques e os elementos naturais ao redor, em um percurso que conectou aprendizado, curiosidade e presença.
O destino foi a Praia das Pombas, onde o grupo aproveitou a tarde para se banhar, se refrescar e vivenciar o parque de forma leve e descontraída, segundo conta a jornalista Núbia Silveira, assessora informal da ONG.

O CRC também garantiu o lanche e o café da manhã, com tudo organizado para que os alunos pudessem aproveitar o dia com tranquilidade e cuidado. Entre conversas, risadas e momentos de descanso, o passeio se tornou uma oportunidade de fortalecer vínculos e vivenciar a educação de forma integrada à natureza.
Este foi o último passeio do CRC no ano, pensado especialmente como um momento de descanso para os alunos após um período de muito aprendizado e dedicação. O projeto também viveu outro momento importante: na sexta-feira (19), ocorreu a formação das turmas do segundo semestre, celebrando as trajetórias construídas e os novos caminhos que se abrem a partir da vivência dessa coletiva.
Educação, cuidado e resgate da autoestima

A antropóloga e diretora voluntária da ONG, Lúcia Scalco, afirma que as pessoas que participam dos projetos do coletivo são, em sua maioria, simples, humildes e em situação de extrema vulnerabilidade social. “Este mundo da informática e da internet não existia para eles. Estava em um ponto remoto do planeta, sem chances de alcançá-los. É mais uma iniciativa de sucesso que beneficia uma área de extrema fragilidade, onde se trabalha de dia para comer à noite, mas que conta com apoio forte e permanente da organização. Ao longo da história, foram realizadas muitas ações que resultaram em resultados positivos para o Morro da Cruz.”
A ONG atende mais de 300 famílias, já doou, ao longo de sua história, cerca de 7 mil cestas básicas e tem aproximadamente 300 alunos matriculados em seus cursos. A instituição desenvolve habitualmente três ações: o Projeto Integração, para crianças de 6 a 12 anos; o Projeto Conviver, no qual os participantes aprendem conteúdos básicos para a vida, como filosofia, psicologia e música; e o Projeto Decole, que propõe estimular o grupo a refletir sobre os desejos para o futuro. Aulas de marcenaria, informática, entre outras, são ministradas com o auxílio de professores aposentados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
“Nosso objetivo no Morro da Cruz é o resgate da autoestima. Aqui, todos, das crianças aos mais velhos, têm enormes problemas materiais, físicos e psicológicos, e nós tentamos aliviar tudo isso com paciência, dedicação, carinho e compreensão. Nosso trabalho não é recriminar ou julgar ninguém. É ensinar, conduzir, falar e compreender. Queremos crianças e jovens felizes e com dignidade”, ressalta Lúcia Scalco.
“Nosso movimento é engajado socialmente. Nós nos envolvemos, colocamos a mão na massa. Não somos observadores passivos e silenciosos, que tudo enxergam e nada fazem. Não ficamos apenas nas teorias e de braços cruzados, estudando a realidade”, afirma. “Assim foi na pandemia e na enchente. Ajudamos quem precisa e com a maior boa vontade”, completa.
Com determinação ao longo do tempo, a ONG recebeu prêmios e elogios por sua atuação. Em 2021, por exemplo, venceu a categoria Referência Educacional no Prêmio Líderes e Vencedores, que valoriza lideranças da comunidade gaúcha e é promovido pela Assembleia Legislativa e pela Federasul. Outra dirigente, Nira Martins Pereira, de 59 anos, cresceu no bairro. Aos 18 anos, começou a se envolver em trabalhos sociais. Após conhecer Lúcia Scalco, presidente do coletivo, passou a trabalhar juntas.

“Nunca me conformi com a desigualdade social e fiz dessa rebeldia um objetivo de vida. Queria transformar a realidade onde nasci e cresci. Nossa meta aqui no Morro da Cruz é proporcionar conhecimento e garantir uma vida digna e comprometida para as pessoas que moram em situação de vulnerabilidade”, afirma Nira.
“Falo para nossos jovens não sentirem vergonha de ter nascido e morar no Morro da Cruz. Digo que eles podem, que proporcionam, que irão descer desse morro dignamente, com visão de futuro. Eles serão e terão sucesso”, garante.
Apoie o coletivo
O apoio pode ser feito em dinheiro ou por meio de doações de alimentos, roupas de bom estado, computadores fora de uso e outros itens que ajudam desde bebês até idosos.
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