Ao longo de mais de três décadas, Ceumar construiu uma trajetória singular na música brasileira, com um cancioneiro autoral marcado pela delicadeza e pela força da canção.
Cantora, compositora e violonista mineira, iniciou a carreira no final dos anos 1980, nos bares de Belo Horizonte, e desde então lançou oito álbuns, percorreu o Brasil e levou sua música para palcos da Europa. Em entrevista ao Bem Viverprograma do Brasil de Fato, Ceumar revisita a própria história, da infância no interior ao momento atual da carreira.
“Eu me considero cantautora”, afirma. Nascida em Itanhandu, no Sul de Minas, ela estudou violão clássico na Fundação de Educação Artística (FEA) e venceu, aos 16 anos, a categoria Melhor Intérprete do Festival de Itanhandu. “Uma cidade muito pitoresca, muito bonita, no meio das montanhas”, lembra.
No fim dos anos 1990, Ceumar se mudou para São Paulo, onde passou a conviver com artistas de diferentes gerações e estéticas. Nesse período, se mudou de Zeca Baleiro, produtor de seu disco de estreia, Dindinha (1999). Essa circulação ampliou seu repertório e ajudou a moldar uma obra autoral aberta ao diálogo entre tradição e experimentação.
Ao longo de sua carreira, Ceumar viveu em diferentes cidades. Além de Belo Horizonte e São Paulo, passou por Salvador, e morou por seis anos em Amsterdã, de onde fez turnês pela Europa. Ainda assim, a experiência de ter crescido no interior aparece como marca permanente do seu modo de ver o mundo. “Eu tenho um olhar, um sentimento, uma percepção do mundo dessa pessoa que viveu no interior. Isso foi a base da minha formação musical”, conta.
A música esteve presente desde cedo no ambiente familiar. “Dos dois lados, tanto do pai como da mãe, as famílias eram muito musicais”, revela. O avô mantinha uma banda de sopros na região, e Ceumar guarda até hoje partituras manuscritas e um bandolim centenário, preservados como memória afetiva.
Essa trajetória foi revisitada no espetáculo Ceumar – 35 anos de Músicaque passou por várias cidades brasileiras em 2025. O espetáculo reúne canções de diferentes períodos, parcerias marcantes e encontros que atravessam a obra da artista. “Eu não tinha me dado conta, até a estreia desse show, como era importante fazer essa retrospectiva, para mim e para o público. É uma história de vida de verdade”, afirma.
Confira a entrevista na íntegra.
Brasil de Fato – Quem é Ceumar e de onde vem sua relação com a música?
Ceumar – Eu sou Ceumar, me considero cantautora. Nasci no Sul de Minas, numa cidade chamada Itanhandu, muito pitoresca, muito bonitinha, no meio das montanhas, numa região chamada Terras Altas da Mantiqueira.
Quem nasce no interior, como eu nasci, e vive mesmo o ritmo de uma cidade do interior, nunca perde esse estado. Eu fui para São Paulo, morei em Amsterdã, morei em Belo Horizonte, morei em Salvador, morei em várias cidades, mas o meu jeito de ver o mundo e a vida é de uma pessoa do interior. Eu nunca perdi isso. Eu posso estar em qualquer lugar.
Eu tenho um olhar, um sentimento, uma percepção do mundo dessa pessoa que viveu no interior. Não sei explicar, mas sinto muito isso. Isso foi a base da minha formação musical.
Brasil de Fato – Que referências musicais marcaram sua formação?
Ceumar – Dos dois lados da família, tanto do pai como da mãe, as famílias eram muito musicais.
Em casa já tinha piano, tinha violão, que o meu pai tocava pandeiro, essas coisas. Sempre tinha instrumento em casa, então foi muito simples para a gente.
Meu avô, pai da minha mãe, tinha uma banda ali na região, uma bandinha de sopros. Ele tocava tuba e também era compositor. Eu tenho partituras guardadas de composições dele, transcritas à mão. Primos estudaram sopro com ele, minhas tias tocavam sanfona e bandolim.
Eu guardo com muito carinho um bandolim de mais de 100 anos que teria sido do meu avô. Pelo lado da minha mãe, já tinha muita música.
E meu pai, mais próximo de mim, tinha sido cantor na juventude. Ele cantava nas festas da cidade, por toda a região. Era chamado de “a voz de veludo”.
Brasil de Fato – Quando você escuta a força da sua própria voz?
Ceumar – Eu não tinha consciência da minha voz. Foi tudo muito natural. Na escola, levei o violão e um amigo falou: “Olha que voz bonita”. Eu pensei: “Ah, é?”. E tinha um festival de música na minha cidade, que existe até hoje, um festival de inverno muito tradicional.
Resolvi participar porque os amigos falam da minha voz. Fui tomando consciência, mas quando subi no palco para cantar, tive uma sensação e uma emoção que nunca esqueci. Foi um empoderamento. Eu me senti incrível, muito potente ali na adolescência, com todas as inseguranças que eu tinha.
Eu estava muito nervoso, mas aquilo me deu uma força de pensar: “Puxa, isso aqui eu posso fazer. Aqui é o meu lugar”. Eu tive essa sensação.
Brasil de Fato – Como você vive hoje o processo criativo e a ideia de um novo álbum?
Ceumar – Hoje eu tenho 56 anos. O processo criativo do primeiro álbum foi demorado, lento, porque a gente não tinha dinheiro e precisava fazer tudo no ritmo das coisas. E tudo bem, ficamos muito felizes no Dindinhano primeiro álbum.
Hoje eu me vejo de novo como se estivesse recomeçando esse processo. O que eu vou dizer? Eu estou nesse processo, nesse momento. O que vai ser essa próxima discoteca?
Eu acho que todos os álbuns têm essa potência. O que vem antes, o que você está vivendo, o que você quer dizer. Isso não muda muito.
Talvez hoje eu saiba melhor como fazer. Aprendi produção, mixagem, aprendi a fazer junto com os técnicos. Consigo dizer o que eu gosto e o que eu não gosto. Tenho um lugar de escolha que é muito meu.
Mas o momento anterior à chegada do disco é igual. Eu sinto a mesma coisa. É uma busca. O que eu vou dizer? Como vai ser a sonoridade? Estou exatamente nesse momento.
Brasil de Fato – O que significou revisitar sua trajetória no show de 35 anos de carreira?
Ceumar – Eu não tinha me dado conta, até a estreia desse show, de como era importante fazer essa retrospectiva, para mim e para o público.
Quem vai assistir revive emoções, lembra de canções, lembra de histórias. Depois do show, em alguns lugares, a gente fazia um bate-papo aberto com o público, e recebi muitos depoimentos lindos sobre como cada música tinha sido importante em tal momento da vida.
Pessoas que tinham crianças na época, bebês, e hoje chegam com os filhos jovens. Então, é uma história de vida de verdade. Para mim foi muito interessante olhar para todo esse processo, para toda essa trajetória, através das músicas.
E tem mais…
Final de mais um ano de lutas, sabores e esperança! No último Bem Viver de 2025, um programa especial repleto das histórias mais antigas que cobrimos ao longo deste ano. Um verdadeiro presente para você que acredita que outro mundo é possível — e já está sendo construído.
Ainda nesta edição, há uma reportagem sobre os avanços da agroecologia e da reforma agrária na Colômbia, mostrando como as famílias cultivam alimentos saudáveis em novos modelos de produção.
Confira também a cobertura da COP30 e da Cúpula dos Povos na Amazônia, com destaque para a participação de jovens e crianças nos debates sobre as mudanças climáticas.
Claro, não poderia faltar uma receita especial! A chef Gema Soto ensina a Salada Festiva de Frango, fechando o ciclo de receitas saudáveis do ano com um prato ideal para as celebrações.
Quando é onde assistir?
Nenhum YouTube faz Brasil de Fato todo sábado às 13h30, tem programa inédito. Basta clicar aqui.
Na TVT: sábado às 13h; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
Na TV Brasil (EBC), sexta-feira às 6h30.
Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital.
Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET.
Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprise ao longo da programação, no canal 12 da NET.
Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital.
Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET.
TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17.
Sintonizar
No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil de Fato. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. Além de ser transmitido pela Rádio Agência Brasil de Fato.
O programa conta também com uma versão especial em podcastó Conversa Bem Viver transmitido pelas plataformas Spotify, Google Podcasts, iTunes, Pocket Casts e Deezer.
Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestam interesse em veicular o conteúdo. Para ser incluído em nossa lista de distribuição, entre em contato por meio do formulário.