UM violência política sofrida por mulheres no Brasil tem impactos psicológicos, financeiros e democráticos profundos, especialmente quando impulsionados pelas plataformas digitais. É o que aponta Anna Spinardi, diretora do Programa de Feminismo de Dados, em entrevista ao Conexão BdFpai Rádio Brasil de Fatosobre o relatório Align, que analisou 6 mil mensagens no Telegram e realizou entrevistas com lideranças políticas femininas.
Segundo Spinardi, as agressões são geralmente atravessadas por identidades – raça, gênero, origem e idade. “As violências que as mulheres na política sofrem são específicas dependendo dos perfis. Mulheres negras são atacadas através do racismo; mulheres indígenas, por estereótipos coloniais; mulheres trans, com a hipersexualização”, explicou.
Mesmo assim, “independente do tipo de identidade interseccional que essas mulheres tenham, todas as dificuldades da misoginia”, garante. “A misoginia atravessa os espectros, é independente do campo político”, afirma a diretora. No entanto, o estudo coordenado de que a maior parte dos ataques coordenados vem “de grupos de extrema direita”, e que mulheres de direita também relataram violências dentro dos seus próprios partidos.
Spinardi alerta ainda para o papel das plataformas digitais na piora do cenário. “A tecnologia tem um peso muito grande justamente por conta da amplificação da violência”, diz, lembrando que o país carece de uma definição legal e de regulação. “A maioria dos partidos políticos nem entende o que é uma violência digital”, revelou.
Segundo ela, os partidos continuam tratando o problema como individual, quando deveria ser coletivo. “Os partidos ainda não entendem que esse é um problema coletivo e que, principalmente, esse tipo de violência mina a nossa democracia”, criticou.
Entre as consequências dessa violência, um pesquisador destacou as limitações da saúde mental, doenças físicas e resistência de ocupação de espaços na política. “O impacto se transforma em doenças realmente, doenças físicas, e também a questão do afastamento da vida pública”, relatou, mencionando casos de mulheres que abandonaram mandatos de campanhas após o ódio.
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