Pontos-chave
- Washington está a negociar um acordo de paz entre o Congo e o Ruanda, ao mesmo tempo que o vincula a um importante pacote de minerais e infra-estruturas.
- O plano poderia transformar o Congo num fornecedor central de minerais por trás de carros eléctricos, smartphones e armas modernas.
- O funcionamento do acordo depende do fim do apoio aos rebeldes e da transformação do dinheiro estrangeiro em empregos, energia e estradas reais.
O que parece ser uma cimeira de paz distante em Washington é, na realidade, sobre a economia global. Os Estados Unidos estão a tentar acalmar um longo conflito no leste da República Democrática do Congo, garantindo ao mesmo tempo cobalto, cobre, lítio e tântalo para a indústria e a defesa.
A barganha é simples. Congo compromete-se a avançar em direcção à paz com o vizinho Ruanda e a abrir os seus sectores mineiro e energético a mais investimentos privados e baseados em regras.
Em troca, Washington apoia novos projectos ferroviários, portuários e energéticos e oferece aos EUA e às empresas aliadas um caminho mais claro para enormes reservas minerais.
No papel, os números são grandes. Uma ligação ferroviária planeada, no valor de 1,8 mil milhões de dólares, ligaria a cintura mineira do Congo ao Corredor do Lobito, em Angola, reduzindo o tempo de transporte para a Europa e as Américas.
Outra plataforma é o há muito discutido complexo hidroeléctrico Grand Inga, no rio Congo, anunciado como um projecto que poderá um dia iluminar grande parte de África.


A corrida mineral do Congo
Nos bastidores existe uma rivalidade estratégica. China domina agora o processamento e o comércio de muitos dos minerais enterrados no solo congolês.
Os decisores políticos ocidentais querem fornecedores alternativos e contratos mais transparentes para evitar depender de uma única potência rival para insumos críticos.
O maior risco não está na geologia, mas na política. O Leste do Congo ainda está dividido por milícias como o M23, acusado de apoio do Ruanda, e por grupos armados ligados ao legado do genocídio de 1994.
Grupos da sociedade civil alertam que, sem uma supervisão forte, a nova corrida aos “minerais da paz” poderá repetir velhos padrões de trabalho infantil, deslocação forçada e empresas estatais opacas.
Para os leitores estrangeiros, a mensagem é simples: o que acontece no Congo testará se o Ocidente consegue garantir cadeias de abastecimento mais limpas, ao mesmo tempo que insiste na segurança e na responsabilização. Todos os números mencionados provêm de relatórios; nada foi inventado.